segunda-feira, 23 de maio de 2011

O CRAQUE DA RODADA


O craque chegou cedo ao estádio. O jogo era só nove e meia da noite. Estava concentrado, focado no espetáculo que queria proporcionar. O resto da equipe veio em outro ônibus e chegou logo depois. Fizeram um reconhecimento do gramado, das dimensões do campo. Ficaram todos satisfeitos. O craque queria fazer uma estréia inesquecível. Não que ele quisesse provar alguma coisa a alguém, aos fãs, à galera. Ele queria apenas encantar mais uma vez. E nada melhor que um fim de semana de abertura do Campeonato Brasileiro, quando todas as lentes estão voltadas para muitos estádios, Brasil afora. Antes de mais nada era preciso aquecer, aquecer e aquecer.Afinal o craque não é nenhum garotão. Já é um veterano, mas está em ótima forma, se cuida muito, é até vegetariano e vem mostrando ao mundo que ainda vai brilhar por muito tempo. Dizem os que o idolatram ( e eu sou uma delas), que o craque vai brilhar pra sempre, que suas exibições e performances parecem evoluir a cada apresentação, que ele fascina como um semideus, capaz de figurar na galeria dos melhores de todos os tempos. O craque é tão fascinante que foi até condecorado pela rainha Elizabeth da Inglaterra, berço do futebol.
Mas se aproximava a hora do show que ele prometeu dar. Era hora de vestir o uniforme, testar os instrumentos de trabalho, repassar com os parceiros a sintonia, pedir a benção dos Deuses e encarar um estádio lotado: 45 mil pessoas estavam ali, à espera dele, só para vê-lo depois de tantos anos longe do calor da torcida carioca. A última exibição dele por aqui foi ainda na década de 90, num Maracanã lotado, com 184 mil pessoas. Marca que ele, como um craque coleciona com orgulho, pois entrou para o Guiness, o livro dos recordes. Naquela ocasião, ele lembra bem, choveu uma barbaridade, o gramado ficou pesado, mas ninguém arredou pé e ele fez uma exibição de gala. Seguia formando novas e novas gerações de fãs no Brasil e em qualquer lugar do planeta.
Tudo pronto! Hora de entrar em campo.Delírio da multidão. Uns choram de emoção, outros gritam o nome do craque, paixão que vem de pai pra filho. Nas arquibancadas muitos cantam, exibem fotos, cartazes, frases de amor eterno. O craque parece comovido com a acolhida, milhares de flashes explodem ao mesmo tempo, ele sente estar num “céu de diamantes”. E dá início ao que será lembrado como um das maiores shows de um craque no Engenhão. Que me desculpem, Ronaldinho, Thiago Neves, Bernardo, Lucas, mas quem mais brilhou nos estádio na estréia do Brasileirão, foi Sir Paul McCarthney!

quarta-feira, 18 de maio de 2011

CARÊNCIAS

A menina andava triste, desanimada, parecia até deprimida. A mãe tratou logo de procurar saber o que estava acontecendo. Afinal, não tinha motivo algum que justificasse aquele comportamento. Aos quinze anos ela ia bem nos estudos, pretendia seguir carreira em educação física, tinha muitas amizades nas redes sociais. Curtia praia, Lapa, Circo Voador . Não namorava, porque não se namora mais hoje em dia,mas “ficava”. Então o que acontecia com a menina?

-Vamos levá-la ao médico- dizia a mãe, para o pai, que reagia como se já soubesse o que se passava com a filha.

- Um terapeuta resolve isso- inisitia a mãe. Pode ser anorexia, porque ela emagreceu muito. Pode ser bulling na escola, sei lá tem tanta coisa!!!!

-Que nada, isso passa. É só uma fase. Adolescentes são sensíveis . Depois eu também estou com os mesmos sintomas – confessava o pai, para surpresa da mãe, cada vez mais intrigada com a situação.

- Como assim? Você está deprimido? Porque?O que que eu fiz pra vocês- perguntava ela, já dominada pela culpa.

- Não fez nada- respondia o pai. É saudade.

- Saudade? Você tem outra? e a nossa filha descobriu e está assim por causa disso....

-Nossa, como você é dramática-concluiu ele.

Mas então... Se não tem outra mulher nessa história, de quem é essa saudade? E o que tem a nossa filha?

-É saudade mesmo, mas é saudade dele!

-Dele??? Então o seu caso não é com uma mulher, é com um homemmm?

-Isso mesmo. E quer saber o nome dele- dizia,para a mulher paralisada.É futebol, sua boba! Saudade do futebol! Estamos há quase um mês sem jogo no Rio. O Flamengo acabou logo com o campeonato e domingo sem futebol não é domingo. Dá uma tristeza, um vazio. Nossa filha sofre do mesmo mal. Já não basta a saudade do Maracanã.. - revelava ele-

-Nossa..garanto que se eu viajasse vocês não iam morrer de saudade de mim– respondia magoada.

-Ah, não fica assim. Sábado começa o Brasileirão e isso tudo acaba – confortava ele.

-Tá certo. Sabe, agora percebo que eu também estava estranha. Sem futebol até a rotina da casa fica diferente. Parece que falta alguma coisa.