sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

O MEU CARNAVAL



Perco o rumo no batuque que escuto ao longe. Ele está por toda parte nesse Rio de sujeira, permissividade, culto ao corpo, inculto de valores. Diz a lenda que o nome disso é Carnaval, festa profana, insana, que brota do nada uma alegria produzida, sem razão, incendeia e apaga por quatro dias preocupações de outros 361 do ano . O sorriso aberto vem de quem chora no ombro da cuíca, um lamento ritmado, a disfarçar mágoas, ressentimentos, decepções, contrastadas com o repique do surdo, que só ouve a fuzarca dos blocos humanos e escuta a introdução de mais uma marchinha, composta no início do século passado. O carnaval reencarna em cada um, o melhor e o pior das essências dos sentimentos perdidos no planeta. Como diz o poeta: “ é a invenção do diabo, que Deus abençoou”. Acho meu rumo ao pegar a estrada no sentido contrário. O som do tamborim vai se afastando, o pandeiro ficou pra trás, na disritmia dos meus passos, em busca do silêncio de uma outra  sinfonia: a orquestra da mata atlântica, onde ecoam trinados gerados pela alvorada, o farfalhar da folhagem, que se deixa levar e seduzir pelo vento, um embalo incessante, calmo, sereno molhado pela corredeira do rio gelado a deslizar sem parar cachoeira abaixo. O ritmo do meu Carnaval é frenético também, provoca euforia, prazer, namora de olhos fechados com a natureza, entra em harmonia com a bateria do meu coração, em compasso coreografado passo a passo, ao encontro do meu ser.
Bom Carnaval!!!