terça-feira, 1 de novembro de 2011

SARAVÁ!!!!



“ Se macumba ganhasse jogo, o campeonato baiano terminava empatado”.

A frase do saudoso João Saldanha ficou marcada no folclore do nosso futebol, mas pelo menos um personagem não acreditava na veracidade dela. Era um sujeito forte, um legítimo exemplar de um negão, chamado Eduardo Santana, que entrou para a história do futebol como Pai Santana. Muito mais que massagista do Vasco, figura queridíssima em São Januário, conhecedor de muitas histórias do clube, Pai Santana era mesmo uma entidade. Muitos recorriam às suas mandingas para curar uma torção, um resfriado, uma distensão. As mãos de Santana não promoviam só massagens milagrosas e tiravam do estaleiro jogadores machucados. A crença nos poderes do ilustre vascaíno iam muito além dos muros de São Januário. Há quem diga que em véspera de clássico com o Vasco, os adversários ficavam de olho no noticiário dos rivais e no que estaria aprontando Pai Santana. E fora muitas as histórias. Dizem que ele costumava fazer “trabalhos” ou despachos, como queiram nos portões da Gávea, Laranjeiras, General Severiano.....sempre na calada da noite, sorrateiro. Amarrava direitinho a perna dos adversários. Se dava certo ou não , era outra história. O importante era crer, levar fé, naquela força extra que estava sempre a serviço para impulsionar o clube da colina. E quantos sapos será que ele enterrou em gramados alheios, só pra garantir a vitória do seu Vascão¿ A verdade é que Pai Santana, além de excelente massagista, agia na mente de jogadores , dirigentes e adversários, como aquele Ser  em quem muita gente não acredita, mas ninguém quer desdenhar, duvidar, muito pelo contrário...Vai que a mandinga funciona !!! pensavam os nem tão céticos assim. E o homem tinha sua função durante o jogo. Era o “garoto de recados” de muito treinador. Ele ia para trás do gol  e voltava muitas vezes durante uma partida, correndo com aquele corpão que Deus lhe deu, só pra levar uma instrução ou quem sabe rezar pra “fechar” o gol do Vasco. Pai Santana nos deixou ante-ontem, aos 77 anos. Levou com ele muitas histórias do folclore do futebol: de águas batizadas, a chuteiras dos inimigos amarradas com seus “passes” de macumba, sempre a serviço do Vasco. Na história do clube, com certeza, Santana é um capítulo à parte, que merece muitas páginas, tantas são as que lhe são atribuídas. Deixou aqui uma lacuna difícil de ser preenchida no futebol tão previsível , frio e calculista dos nossos dias, onde nem o nosso imaginário permite mais fazer uma fezinha nos orixás, jogar um gole pro Santo e acreditar que há  muitas coisas além da bola. Vai em paz, Pai Santana. Saravá!!!!
coluna publicada no rjsports em novembro de 2011