domingo, 12 de dezembro de 2010

NOEL, 100 ANOS

TRÊ APITOS

"QUANDO O APITO DA FÁBRICA DE TECIDOS, VEM FERIR OS MEUS OUVIDOS, EU ME LEMBRO DE VOCÊ"

A CHAMINÉ DA FÁBRICA DE TECIDOS CONFIANÇA, FUNDADA EM 1885, A QUE NOEL SE REFERE NA LETRA DA MÚSICA TRÊS APITOS, AINDA ESTÁ LÁ. FICA NA RUA MAWELL, EM VILA ISABEL, BERÇO DO COMPOSITOR. NO LOCAL FUNCIONA HOJE UM SUPERMERCADO


CONVERSA DE BOTEQUIM


“SEU GARÇON FAÇA O FAVOR DE ME TRAZER DEPRESSA, UMA BOA MÉDIA QUE NÃO SEJA REQUENTADA......”


ESSA ESTÁTUA EM BRONZE, NA ENTRADA DO BOULEVARD 28 DE SETEMBRO, RETRATA O CENÁRIO DE UMA DAS MÚSICAS MAIS FAMOSAS DO POETA DA VILA: CONVERSA DE BOTEQUIM.


PALPITE INFELIZ


“QUEM É VOCÊ QUE NÃO SABE O QUE DIZ, MEU DEUS DO CÉU QUE PALPITE INFELIZ, SALVE ESTÁCIO, SALGUEIRO E MANGUEIRA, OSWALDO CRUZ E MATRIZ, QUE SEMPRE SOUBERAM MUITO BEM, QUE A VILA NÃO QUER ABAFAR NINGUÉM, SÓ QUER MOSTRAR QUE FAZ SAMBA TAMBÉM”


OS VERSOS SÃO UMA RESPOSTA AOS JURADOS DO DESFILE DAS ESCOLAS DE SAMBA DO RIO, QUE JÁ NAQUELE ÉPOCA, CAUSAVAM POLÊMICA. PALPITE INFELIZ FOI A FORMA MUSICAL QUE NOEL ENCONTROU PARA PROTESTAR CONTRA O RESULTADO, NADA FAVORÁVEL A ESCOLA DE SAMBA VILA ISABEL.


OBS: OS TRÊS TEXTOS FORAM AO AR NO RJ RECORD, EM HOMENAGEM AO CENTENÁRIO DE NOEL ROSA

LIBERDADE

Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós...... diz o refrão de um samba antológico de 1989, da imperatriz leopoldinense, escola de ramos, um dos bairros da região do Complexo do Alemão.

Por muitos anos os moradores dessa gigantesca comunidade entoaram esse refrão só em pensamento e esperança. Reféns do mundo cruel do tráfico, não tinham direito nem mesmo de falar.

Submissos e submetidos à uma ditadura territorial , foram forçados a esquecer o significado da palavra cidadania.

O direito de ir e vir muitas vezes cerceado, calado, abafado pelo som das balas

e enterrado na flor da idade.

Mas ontem o complexo do alemão, com seus quatrocentos mil moradores, viveu um domingo que entrou para a história do Rio de Janeiro. Um domingo, onde mais que o sol, tão reverenciado pelo carioca, brilharam os heróis da liberdade, título de um outro samba inesquecível do carnaval carioca.

OBS: O TEXTO FOI UMA CRÔNICA QUE ENCERROU O RJ RECORD, NO DIA SEGUINTE DA INVASÃO DO COMPLEXO DO ALEMÃO

DIA NACIONAL DO SAMBA

diz a história que o samba nasceu lá na Bahia, mas foi aqui no Rio que ele fixou residência, criou raízes, tradição, cresceu, virou estrela de grandeza internacional.

nesse dois de dezembro, quatro dias depois da invasão do complexo do alemão, o carioca comemora a data desse patrimônio com mais esperança,mais alegria.

sai os som dos tiros, entra o dos tamborins.


o barulho das bombas dá lugar ao repique dos surdos.


hoje, no dia nacional do samba, o único chôro é o da cuíca.

OBS: O TEXTO FOI UMA CRÔNICA QUE ENCERROU O RJ RECORD

terça-feira, 26 de outubro de 2010

HERANÇA

Escrevo ainda sob o impacto da perda do querido João Areosa. Estou de volta ao JS e, quem diria, para ocupar o lugar que foi dele durante um bom tempo, com a coluna Tiro Livre. Nem de longe conseguiria substituir o João, porque ele era único. Chego sim, para dar continuidade a esse espaço do jornal, marcado pelas suas crônicas. Dono de um humor refinado, o nosso Johnny Boy não economizava nas piadas, nas tiradas sutis, no estilo alegre, de quem veio ao mundo para viver bem, em paz, curtindo cada momento, com um enorme prazer. João era um homem forte, adepto de lutas marciais, defesa pessoal. Tinha um físico avantajado e um coração mole na mesma proporção. Apesar da amizade, só trabalhamos juntos na extinta TV Manchete. Editávamos a Manchete Esportiva, que ia ao ar à noite. Certa vez a Seleção Brasileira fez um amistoso contra a Finlândia, creio eu, em meados da década de 80 e Zico "acabou com o jogo". Marcou muitos gols, daqueles antológicos. Eu perguntei ao João se poderia fazer alguma edição especial só com os momentos do Zico. João, democrata por natureza, confiou nos meus escassos conhecimentos de televisão naquela época e disse sem pestanejar: " manda ver , garotinha!". E lá fui eu para a ilha de edição, tentar mostrar em um minuto o que Zico fez em noventa. Fiz uma edição sem texto, apenas sonorizada com um samba-exaltação, "Canta Brasil". Na hora do jornal entrar no ar eu estava uma pilha de nervos. Será que João aprovaria a edição? será que estaria à altura do galinho? Ou seria um fiasco, aquele meu trabalho quase de estréia em TV? Fomos eu e João assistir dentro do switcher, local onde ficam as pessoas que colocam o jornal no ar. Fiquei posicionada de forma que pudesse ver a reação dele, a expressão facial, de aprovação ou desaprovação. Enfim a matéria entrou no ar, encerrando a edição. Olhei de rabo de olho para o João. Vi que seu rosto estava tenso e segundos depois ele deixou a emoção tomar conta. Chorou. A lágrima escorreu pelo rosto. O Johnny Boy, o lutador, o colega que cumpimentava os amigos com um tapão nas costas e depois dava um beijo, deixava-se ver por inteiro ali naquele momento: um homem emotivo, generoso, amigo, mestre incentivador, que não hesitou em chegar perto de mim e dizer, ainda sob a emoção: "ficou do caramba!". João não sabia, mas naquele momento, me dava o batismo televisivo, um ponto de mutação na minha vida de profissional de jornalismo impresso, que engatinhava nesse veículo fascinante da TV. Era como se eu chegasse para o primeiro dia de aula e o professor me recebesse cheio de apoio para dar. Essa foi só uma das muitas situações que vivemos dentro das redações ou fora delas, em conversas intermináveis no Color Bar ( boteco ao lado da Manchete) ou nas silenciosas madrugadas de Teresópolis, cercados de amigos, uisque e bate papo rolando em doses generosas.

João passou para mim e, acredito que para muitos outros amigos, experiência, conhecimento, não só na profissão, como nas situações de vida. Ao menor baixo astral, ele dizia: "não esquenta, garotinha, não esquenta!". Jamais poderia imaginar que, além disso tudo, João ainda deixaria pra mim, de herança, esse cantinho, onde eu poderei fazer uma das coisas que mais gosto nessa vida: escrever. Obrigada, João.

(COLUNA PUBLICADA NO JSPORTS- 19-10-10)

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Adeus, João


João Areosa nos deixou neste dia 15 de outubro. Deixou muitos amigos e eu tive a felicidade de fazer parte desse grupo. Foram muitos bares, muitos fins de semana no frio da serra de Teresópolis ou filmando bicicross em Rezende (que maluquice , a nossa!). Ainda esta semana falei com ele nas redes sociais. Sempre mandava uma piada, uma observação inteligente, gaiata. A terra está mais triste e o céu, em festa. Dá até pra ver o Sandro (Moreyra), o Oldemário (Touguinhó) e o João (Saldanha)abrindo a porta da "redação do céu" para o João entrar e reforçar a equipe. Vai em paz, meu querido companheiro João, porque aqui embaixo, depois do seu adeus, a terra jamais será a mesma.
Reproduzo abaixo a última crônica de João Areosa, no Jornal dos Sports, que ele escreveu na véspera de nos deixar.


TIRO LIVRE

Abençoada muleta


Envio um e-mail para o editor deste jornal, o Sérgio du Bocage, pedindo uma sugestão para a coluna que vai saltitar amanhã nas bancas e na internet. Ele cita o clásssico Flu x Botafogo. É uma idéia a ser levada em conta, sem dúvida.
Mas, dou-me conta de que entre uma quinta-feira e outra aconteceu de tudo pelos gramados, pistas e quadras da vida.
O coração deste cronista viveu aos pulos, sofrendo alegrias e aflições. MaIs alegrias do que aflições, bem verdade.
Aflição me deu aquelas cenas deploráveis de horror num estádio da Itália, feito para o nosso futebol de cada dia e que viveu momentos horrorosos com aqueles brutamontes tatuados da Sérvia. Que mundo é este?
Corro direto para as pistas de F-1, onde o nosso Felipe Massa já deveria ter levado uns 50 pontos e se houvesse justiça, perdido a carteira com direito a multas e o escambau. O nosso campeão não está sabendo domar o cavalinho da Ferrari, a precisar não de piloto , mas de amestrador capaz. Até empacar, o bichinho empacou.
Saio da pista e entro gloriosamente numa quadra de vôlei, na qual mais uma vez deixamos os nossos adversários a ver navios. Que passeio! Força de conjunto e força individual. A quase perferição.
E esse gaúcho, Murilo, justamente escolhido o melhor do mundo, deixou o colunista, abobado. O rapaz sacou, defendeu, passou e atacou com a perfeição de um deus do esporte. Teve um momento que ele cometeu tudo isso ao mesmo tempo, como um personagem de desenho animado.
Tenho que rir. Mas, aqui entre nós, Até sob o incômodo de um par de muletas e ouvindo os insultos basbaques dos italianos, mostrou que é mais técnico do que todos os outros juntos. Muleta neles, Bernardinho!
Estou sem ar e nem falei ainda de futebol, que anda curioso e gaiato. Veja o caso do Corinthians, que já contava com a medalha no peito e que vem descendo a ladeira com o desespero dos condenados. Ah, mas o Ronaldo Fenômeno promete chegar com tudo. Só não sei se para jogar ou servir de bola. Ou bolão, como o leitor achar melhor.
Val Baiano(soube que se contundiu) faz gols e , emocionado, diz-se Flamengo doente. O sheik Emerson disse mesmo. Que cara de pau e que rolo este campeonato.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

A MAGIA DO GOL


Que mistério existe no simples fato de uma bola tocar a rede adversária? Que segredo? Que magia? Que poder? Como pode transformar tudo em volta! Val Baiano que o diga. De desacreditado a salvador da pátria, elevado por uma cabeçada certeira, que o fez desencantar. Gol, gol, goooool. Val Baiano começava um processo instantâneo de mutação. De virtual rebaixado, o Flamengo e a nação começaram a ver no horizonte a linha da Sul Americana. Gol, Gol, Gooool de Val Baiano! O craque, sim o craque... estava escondido, mas agora renasceu. Renasceu sim, aquele artilheiro que no ano passado foi vice goleador do brasileirão. Quem disse que foi uma má contratação de Zico? Bastou um gol e tudo mudou. Cadê a crise? Que crise? Val Baiano está aí pra ser o mártir de uma nação de 35 milhões de torcedores, capaz de fazer Luxemburgo quicar, literalmente quicar, de alegria a beira do gramado. O homem é mesmo poderoso, fez todo mundo ressuscitar, levantar a cabeça, sonhar, quem sabe, com uma sensacional arrancada nessa reta final!!!Essa enorme transformação, numa fração de segundo, foi possível por causa de um único toque de cabeça. E todos renasceram e todos acreditaram e a torcida saiu de Volta Redonda em êxtase e dormiu longe da zona de rebaixamento, sem o pesadelo da queda a nos tirar o sono. E tudo graças ao talento de Val Baiano. Que agora todos os incrédulos se ajoelhem e peçam perdão, paguem penitência, mordam a língua, seus pessimistas de plantão. Tá certo que o Diego Mauricio fez o segundo, mas quem quebrou a maré ruim foi ele. Ele quem? Val Baiano, ora bolas. Ou quem mais nesse time do Flamengo teria tanta capacidade de fazer uma crise virar cinza num piscar de olhos? Quem foi que passou o bálsamo do alívio na dor dos rubro negros? Vocês acham que estou exagerando, que estou escrevendo no calor da vitória? Pois saibam que estão cobertos de razão. Pois eu também não tomei a vacina que imuniza contra a febre de um gol. Gol, Gol, Goooool de Val Baiano, o Redentor!!!! Que venha o Avaí!

domingo, 29 de agosto de 2010

CRÔNICA DE UMA SAUDADE


Terça-feira, 31 de agosto de 2010. Ao meio dia, colegas do Jornal do Brasil se reúnem na Cinelândia, Rio de Janeiro. É o Dia do Afeto ao JB. A data marca o fim de uma Era. O Jornal do Brasil, na versão impressa, fundado em 1891, deixa de circular. Posso dizer sem nenhum exagero que uma parte inesquecível da minha vida também deixa de existir. Foi lá, já no prédio da Avenida Brasil, 500, que me formei como jornalista, embora tenha cursado faculdade e me diplomado. Eu tinha 20 anos quando entrei pela primeira vez no JB. Realizava um sonho que perseguia obstinadamente. Todas as vezes que descia a serra de Teresópolis e passava em frente ao Jornal dizia pra mim mesma: " ainda vou trabalhar aí". Era apenas uma estudante de jornalismo, mas consegui uma entrevista para estágio na rádio Jornal do Brasil, no mesmo prédio. Tive o privilégio de ter como primeira chefe na minha carreira a imortal Ana Maria Machado. Era ela a editora-chefe daquela época. Para estagiar era preciso estar no sexto período da faculdade, mas eu ainda estava no segundo. Ana Maria, me chamou na mesa dela, olhou a minha carteira de trabalho, novinha em folha, me esquadrinhou detidamente. Eu tentava disfarçar o tremor das pernas, que insistia em me denunciar. Sabia que estava burlando uma exigência daquela casa. E Ana continuava me olhando. Até que disparou: " Você não está no sexto período, é muito novinha". Pronto...meu ingresso no poderoso JB estava por um fio. Respirei fundo e fui sincera: " Não estou no sexto período, estou no segundo"- admiti já me imaginando sair porta afora e perder aquela chance. Mas Ana voltou a falar e me perguntou: "Você quer ser repórter?" Eu disse que sim, mas queria mais do que isso: queria ser repórter de esportes do JB. Começaria pela rádio e depois, quem sabe, com sorte e dedicação, passaria para o Jornal impresso, que funcionava no andar debaixo. Ana Maria selou o meu destino: "Você é bastante atirada. A vaga de estágio é sua".
Começava assim a minha carreira jornalística e anos maravilhosos da vida profissional. Devo dizer que meus planos se confirmaram. Foram seis meses maravilhosos na rádio, sob a batuta da Ana Maria. Quando podia descia e me infiltrava na editoria de esportes do JB. Fui fazendo amizades, falando dos meus planos de romper barreiras e preconceitos, para ser uma repórter de esportes, num mundo estritamente masculino. E consegui. Saí das mãos de Ana Maria e ingressei numa editoria de craques, comandados por um jovem chamado Sergio Noronha. Mais do que um trabalho, escrever e assinar no JB era um enorme prazer, um orgulho, um sonho que se realizava. Ali eu aprendi a apurar, a exercitar o texto com a nata do jornalismo, a me virar em coberturas dentro e fora do meu país. Na redação do Jornal do Brasil eu assimilei o que é ser jornalista.
Por isso, quando os colegas se reunirem na Cinelândia, no Dia do Afeto ao JB, vão estar representando 119 anos de uma trajetória brilhante, única, inigualável. Com certeza estaremos tristes, mas com certeza também estaremos orgulhosos de ter feito parte dessa história.

(A minha foto, que ilustra esta crônica, foi feita na redação de esportes do JB, em 1976, pelo sub-editor Luis Roberto Porto, o Robertão, querido chefe e amigo, que as vezes dava uma de fotógrafo e saía clicando os colegas)

sábado, 28 de agosto de 2010

QUANDO O FÍSICO FALA MAIS ALTO


Não basta ser craque. Tem que se manter em forma, driblar contusões, estar sempre pronto para entrar em campo, na quadra....inteiro.Ou seja, é preciso além de talento, ter a benção de um físico, uma musculatura, privilegiada. A semana foi marcada por várias notícias que lamentamos. Quando Paulo Henrique Ganso caiu em campo, se contorcendo em dores, confesso que meu coração disparou e pensei: Não! Não é possível que em plena explosão profissional, com lugar certo na seleção e um futuro financeiro garantido, seja aqui ou no exterior, uma contusão venha agora atrapalhar a trajetória desse novo ídolo. E nós, o que vamos fazer, sem Ganso pra ver às quartas e domingos? Que pena! E aí a gente pára pra pensar quantas vezes essa história já se repetiu no esporte brasileiro. O joelho também afastou Kaká dos gramados e fez ele jogar no sacrifício na Copa. Um pecado. Dizem até que a contusão pode abreviar a carreira dele. Seria só mais um no enredo do espetáculo do futebol. O roteiro passa pelos problemas físicos dos geniais Garrincha, Maria Esther Bueno e Gustavo Kuerten, o nosso Guga, que no fim de semana fez um jogo exibição contra um Kafelnikov, bem gorducho, e venceu. Mais do que o reencontro com a vitória, o jogo deixou a certeza de que, se aquele quadril permitisse, Guga iria muito mais longe, a nos presentear com exibições memoráveis. Infelizmente a contusão obrigou Guga a deixar o tênis competitivo muito cedo. Na despedida, o choro do tricampeão de Roland Garros, mostrava o quanto ele lamentava e sofria. E o físico é mais uma vez o vilão, quando Ronaldo Fenômeno anuncia que o fim está próximo. Na coletiva ele deixou claro que a contusão no púbis e o excesso de peso são obstáculos intransponíveis para continuar jogando. Tratar? Recuperar a forma? Ele sabe que não tem mais volta e sacramenta: "Não tenho mais 20 anos..."
Não há como ficar indiferente à despedida dele, assim como não foi fácil ver Guga pendurar a raquete e não está sendo tranquilo aceitar ver o Santos sem o maestro Ganso. Como consolo, fica a esperança de que os 20 anos dele o ajudem a se recuperar o mais rápido possível. Dois mil e onze tá aí pra Kaká, Ganso e pra tantos craques que esbarram na implacável marcação das contusões. Bola pra frente!

sábado, 21 de agosto de 2010

O MENINO É DA VILA

Quem manda ser apressada? Saí sacramentando a despedida de Neymar do Santos e olha aí.... O menino da Vila continua por aqui, em gramados brasileiros, amadurecendo, como ele mesmo diz, para depois correr mundo. É uma decisão sensata. Ao longo das temporadas a gente quase não fica sabendo do que se passa com craques que resolvem desbravar o desconhecido, em países de cultura muito diferente, de clima e hábitos estranhos. Jogar lá fora é muito mais do que ficar milionário da noite para o dia. É conviver com a saudade, a necessidade de adaptação ao modo de vida, é um recomeço, geralmente quando eles ainda são muito garotos, despreparados para quase tudo, começando a descobrir que nem tudo é prazer. Muitos não seguram a barra, entram em depressão, sofrem com a distância e isso se reflete dentro das quatro linhas. De ídolos, recebidos com todas as homenganes, esbarram na implacável marcação da torcida. E o que era para ser uma festa, uma independência financeira, vira pesadelo. Como voltar? Não é nada simples. Não basta querer. Romper contrato é problemático, leva tempo e dinheiro. Vêm as negociações, é necessário achar um clube interessado, fortunas estão em jogo. E enquanto as pendências não se resolvem, o futebol daquele que era um craque, fica escondido em algum lugar. A derrota para a depressão é certa. É preciso ter muita cabeça, muita maturidade para fincar os pés nos gramados do exterior e se manter bem, em forma física e mental. Por isso tudo, acho que -independente do que tenha segurado Neymar por aqui, seja dinheiro, seja até mesmo apego pelo Santos - o menino só teve lucro ao ficar. Mais tarde, quando ele for jogar lá fora, vai ver que realmente não basta ter futebol de craque para sobreviver longe de casa. Bom para ele e um presente inesperado para quem ama o bom futebol.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

OS MENINOS DO MUNDO


Durou pouco. Quem viu, viu. Quem não viu, vai só ouvir falar. Esse time do Santos passou no planeta do futebol brasileiro como um cometa. Na cauda estavam Paulo Henrique Ganso, o novo maestro, Neymar, o novo moleque, André, o novo coadjuvante e Robinho, o novo veterano. Confesso que a qualidade do futebol deles me fez deixar de lado alguns jogos, só para ver as últimas evoluções dessa tripulação nesse nosso universo. Que todos os dias nascem craques por aqui, a gente já sabe, mas tantos num só time, ao mesmo tempo, na mesma temporada não é tão comum assim. Junte-se a isso a nossa carência por um bom futebol, chamuscados que ainda estamos pelo efeito Dunga, e bate uma melancolia, uma saudade do que ainda nem acabou, mas está por terminar. Uma sensação parecida com aquele amor que vai embora, sem que a gente possa fazer nada para segurá-lo. Amores são do mundo e craques, também. Mas foi bom enquanto durou. Teve a fase do encantamento, do deslumbre, da descoberta, da paixão, do amor, da confiança e........terminou. André já foi...Neymar jura amor ao Santos, mas é seduzido por tantos outros sentimentos, tantos outros atrativos $$$. E quem vai pagar o pato, ou melhor, vai segurar Ganso? Eles todos vão bater asas e aterrisar na fama dos campos europeus, como bem merecem. Durou pouco, mas quem viu, com certeza, foi contaminado pela magia do autêntico futebol brasileiro. Valeu meninos!

domingo, 8 de agosto de 2010

ENSINA-ME A VIVER


Vivíamos a realidade dura do ano de 1968. A caça às bruxas era implacável e, como sempre, o futebol era a válvula de escape para muita gente. Nele, ainda se encontrava alegria, emoção.
E numa noite quente de meio de semana, lá fui eu para o Maracanã: bandeira em punho, camisa e a certeza da vitória. Afinal, um simples empate com o modesto Bonsucesso daria o título ao Flamengo . O Botafogo já estava fora do páreo, embora ainda existisse chance. De tão descrente o supertime alvinegro saiu até numa excursão caça-níquel pelo Brasil afora. E nós estávamos lá, só esperando 90 minutos para soltarmos o grito de campeão. A expectativa era enorme, estádio lotado, dono de uma só torcida, a nação rubro-negra.

Será que vamos golear? Perguntava eu para o senhor que me acompanhava na arquibancada, atrás do gol, à esquerda das cabines de rádio.

"Calma, não canta vitória antes do tempo. São onze contra onze", respondia ele, sem esconder uma ponta de nervosismo e experiência de vida, que eu, com meus 14 anos, não conseguia alcançar.

O Flamengo entrou em campo sob um barulho ensurdecedor dos rojões e um mar de bandeiras. Tinha ares de campeão. Só faltava a faixa no peito. Minha confiança aumentava. Estava no papo! Imagine se o Flamengo não ia ser campeão naquela noite?

"É preciso jogar, ganhar na bola, sem menosprezar o adversário, sem salto alto. Foi assim que o Brasil perdeu a Copa para o Uruguai em 50", teimava em me advertir aquele senhor, à beira dos 50 anos, que já havia visto muita coisa nessa vida.

A bola, enfim, rolou e o time do Flamengo bombardeou, mas a bola teimava em não entrar. Numa dessas escapadas em contra-ataque, Bonsucesso um a zero! Mas nem eu, nem a imensa torcida rubro-negra desconfiávamos do que ainda estava por vir. E o bombardeio continuava. Só faltava um golzinho de empate e o título era nosso.

Veio o segundo tempo, mais massacre e nada de empate. O Bonsuça se segurava lá atrás e a angústia foi aumentando. Ao apagar das luzes, o tiro de misericórdia: Bonsucesso dois a zero, ali no gol bem à minha frente.

O apito final me acordou de vez de um sonho. Naquela noite eu aprendi com o meu pai, que no esporte, assim como na vida, não há lugar para o menosprezo, soberba, auto-suficiência. Mas tem espaço de sobra para a frustração, que te derruba em segundos de um prepotente pedestal e serve de lição. O seu Araújo não está mais aqui, mas onde estiver, estará orgulhoso dos exemplos que me mostrou. Exemplos que me prepararam melhor para enfrentar a barra da vida. Domingo é o dia dele. Obrigada, pai!

(Coluna publicada em 10/8/2006 no Jornal dos Sports)

sábado, 31 de julho de 2010

COMO NASCE UM ÍDOLO


O nosso futebol anda tão carente de ídolos de verdade, que Muricy Ramalho virou ídolo da noite para o dia, por abrir mão de um sonho, para honrar um compromisso. A atitude, que nada mais é do que ser firme, ter caráter e coragem de dizer não, ganhou o coração de muita gente. Não foi só a torcida tricolor que passou a admirá-lo mais ainda. O torcedor, de uma maneira geral, aquele que gosta de futebol, viu em Muricy a postura de um profissional honesto, fiel aos seus valores, preocupado em dar exemplo aos seus filhos. Mais do que profissional, Muricy passou a ser um cidadão que ganhou o Rio, conquistou o carioca, seja ele flamenguista, vascaíno, botafoguense. Ele, que tinha no currículo toda uma história ligada ao futebol paulistano, como jogador e técnico, num só gesto virou o Rei do Rio. Depois de tantos acontecimentos recentes, que só mancham a imagem do futebol brasileiro, com jogadores frequentando mais as manchetes policiais dos jornais, Muricy surge para resgatar valores que parecem esquecidos no atual mundo do futebol. Na entrevista que foi ao ar no Esporte Fantástico deste sábado, na Record, Muricy deixou o lado "rabugento" esquecido em algum lugar e adotou um comportamento mais leve, mais alegre e descontraído. Um jeitão meio carioca de ser e em determinado momento da entrevista revelou o quanto o Rio está fazendo bem pra ele ao dizer: " eu só fico sério no trabalho... vai ver se eu sou assim lá em Ipanema?
O homem merece ser ovacionado pela torcida do Fluminense e está tão bem com ele mesmo, que até aviãozinho fez pra comemorar um gol no último sábado. Que barato!O ex-rabugento Muricy veio buscar no Rio uma pitada de bom humor que ainda lhe faltava.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

CLARICE, SEMPRE CLARICE


ISSO É ESCREVER COM A ALMA!


Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo, já perdi um AMOR por escondê-lo.
Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.
Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso.
Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.
Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.
Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.
Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de riso quando não podia.
Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.
Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.
Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade... Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali".
Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.
Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo. Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.
Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram... Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!
Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra SEMPRE!
Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.
Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco q eu vou dizer:
- E daí? EU ADORO VOAR!

Clarice Lispector

quinta-feira, 22 de julho de 2010

BOM DE CUCA


As atitudes no esporte sempre me chamaram a atenção. Não na hora do jogo, da competição, do calor da disputa, mas o extra campo, extra quadra. E na vitória, que deu ao Fluminense a liderança do Brasileiro, dois momentos foram mais emocionantes que a própria vitória: A torcida tricolor ovacionando o técnico Cuca, que hoje comanda justamenteo adversário, o Cruzeiro e o carinho dos jogadores do Fluminense com o técnico, que livrou o Flu do rebaixamento ano passado. Ninguém é tão reverenciado assim se não for uma pessoa especial, daquelas que, por onde passam, deixam saudade. Esse me parece o caso de Cuca, um sujeito que sempre manteve uma incrível humildade, num mundo onde os egos costumam falar mais alto, onde impera a vaidade, principalmente no futebol atual, cercado de "ídolos" por todos os lados, a preencher as páginas dos jornais, dos sites, dos mini blogs e por aí vai. O importante é estar na mídia. Nesse mundo, onde não rola só a bola, Cuca parece ser uma exceção. Um cara que, com esse jeito de ser, resgata o romantismo e a inocência da paixão nacional.

sábado, 17 de julho de 2010

SAUDADE DE JOÃO


Devo confessar que fiquei com um nó na garganta, ao ler a crônica do colega Lúcio de Castro, no blog dele na ESPN. Lembrava os 20 anos da morte de João Saldanha, considerado por ele, o maior comentarista esportivo de todos os tempos. Sem dúvida. Desde que João se foi, em julho de 1990, não surgiu ninguem que traduzisse os complicados esquemas e estratégias do futebol com tanta simplicidade, na linguagem do povo, do cara que discute futebol no boteco da esquina, que passa a semana reclamando do juiz, lamentando a bola que bateu na trave. João era simples, falava como quem bate papo com o ouvinte, o telespectador.... Eu tive o privilégio de trabalhar com ele em vários veículos de comunicação. Na editoria de esportes do agora extinto JB impresso, que deixou tanta saudade, convivi com ele por meia década, diariamente. Era muito bom vê-lo entrar todos os dias, lá pelas seis da tarde (dependendo do dia e dos jogos) e contar suas histórias para quem quisesse ouvir: a rodinha logo se formava em torno daquele homem que tinha um incrível poder de persuasão. João podia falar o maior absurdo que a gente acreditava, e levava aquilo como verdade absoluta. Quem disse isso!!!!! perguntavam os mais céticos. Foi o João, respondíamos nós. E o que era absurdo se transformava em certeza. João falou, tá falado. Os jogos daquela época não terminavam no apito do juiz. O torcedor e muitos coleguinhas, só se davam por satisfeitos depois de ouvir o João no microfone da rádio Globo, ao lado de Waldir Amaral, Jorge Cury....Ele sim, era capaz de tornar a derrota do seu time menos dolorosa, ao considerá-la injusta. As palavras dele soavam como um alento para quem saía derrotado do estádio. Quando entrei em televisão, reencontrei João, na redação da Manchete Esportiva. Fui recebida com uma brincadeira dele: "eu hein, mulher!!, parece que tá me seguindo"!!!! e me deu um abração. Cheguei pra ele e perguntei, na encolha: João, como é que se escreve pra esse troço aqui? Só sei fazer texto pra impresso. E ele, simples como sempre, me disse três coisas: "morena (era assim que ele me tratava), frases curtas e um ponto. A vírgula você põe obedecendo a respiração e o resto deixa com as imagens" . Eu, que já tinha mais de 10 anos de impresso, mas engatinhava em tv, voltei pra casa naquele dia com uma lição simples, que ponho em prática até hoje.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

NÓS DO JB


Em pé: Antônio Maria Filho, Eloir Maciel, João Saldanha, Marcos de Castro, Kala, Silvio Braun e Marta. agachados: Delfim Vieira, Oldemário Touguinhó, eu (Maria Helena Araújo Braun) e Sandro Moreyra, com seu mascote botafoguense.