sábado, 17 de julho de 2010

SAUDADE DE JOÃO


Devo confessar que fiquei com um nó na garganta, ao ler a crônica do colega Lúcio de Castro, no blog dele na ESPN. Lembrava os 20 anos da morte de João Saldanha, considerado por ele, o maior comentarista esportivo de todos os tempos. Sem dúvida. Desde que João se foi, em julho de 1990, não surgiu ninguem que traduzisse os complicados esquemas e estratégias do futebol com tanta simplicidade, na linguagem do povo, do cara que discute futebol no boteco da esquina, que passa a semana reclamando do juiz, lamentando a bola que bateu na trave. João era simples, falava como quem bate papo com o ouvinte, o telespectador.... Eu tive o privilégio de trabalhar com ele em vários veículos de comunicação. Na editoria de esportes do agora extinto JB impresso, que deixou tanta saudade, convivi com ele por meia década, diariamente. Era muito bom vê-lo entrar todos os dias, lá pelas seis da tarde (dependendo do dia e dos jogos) e contar suas histórias para quem quisesse ouvir: a rodinha logo se formava em torno daquele homem que tinha um incrível poder de persuasão. João podia falar o maior absurdo que a gente acreditava, e levava aquilo como verdade absoluta. Quem disse isso!!!!! perguntavam os mais céticos. Foi o João, respondíamos nós. E o que era absurdo se transformava em certeza. João falou, tá falado. Os jogos daquela época não terminavam no apito do juiz. O torcedor e muitos coleguinhas, só se davam por satisfeitos depois de ouvir o João no microfone da rádio Globo, ao lado de Waldir Amaral, Jorge Cury....Ele sim, era capaz de tornar a derrota do seu time menos dolorosa, ao considerá-la injusta. As palavras dele soavam como um alento para quem saía derrotado do estádio. Quando entrei em televisão, reencontrei João, na redação da Manchete Esportiva. Fui recebida com uma brincadeira dele: "eu hein, mulher!!, parece que tá me seguindo"!!!! e me deu um abração. Cheguei pra ele e perguntei, na encolha: João, como é que se escreve pra esse troço aqui? Só sei fazer texto pra impresso. E ele, simples como sempre, me disse três coisas: "morena (era assim que ele me tratava), frases curtas e um ponto. A vírgula você põe obedecendo a respiração e o resto deixa com as imagens" . Eu, que já tinha mais de 10 anos de impresso, mas engatinhava em tv, voltei pra casa naquele dia com uma lição simples, que ponho em prática até hoje.

3 comentários:

  1. Foto historica! O texto leio depois com calma. Que tal postar as crônicas do JS, são ótimas.

    ResponderExcluir
  2. Esta semana, o Jornal dos Sports publicou um artigo de Maria Helena Braun, editora-chefe da recém-lançada edição carioca do "Esporte Record", destacando a importância dela em dar ao futebol carioca um espaço na TV aberta que não possui (mais ou menos o que falei ontem).

    PAPO DE BOLA - PAPO DE MÍDIA - COLUNA - ARQUIVOS DO BLOG - 14/10/2006

    ResponderExcluir
  3. você tem muita história legal pra contar e nós estamos doidas pra ler.

    ResponderExcluir