quinta-feira, 3 de maio de 2012

BOTAFOGUENSES



Tenho dois filhos botafoguenses. O que isso quer dizer? Bem, se você pensar pelo aspecto simplesmente esportivo, do futebol, não quer dizer nada demais. Poderiam ser torcedores de outros times e nada demais. Mas se você pensar pelo aspecto social, psicológico, neurológico, físico, comportamental ,que fazem parte da normalidade de uma pessoa, vai ver que mais do que dois filhos, tenho eu o desafio de conviver com “seres únicos” e um elemento extra, adotivo, chamado “superstição” que é tão importante quanto o ar que eles respiram. Eles são mesmo esquisitos, cheios de manias, de crendices e isso é secular, desde os tempos de Carlito Rocha, que um dia, em véspera de decisão, num treino, apreciava a beleza do Cristo Redentor, de braços abertos sobre o gramado de General Severiano . De repente uma nuvem negra cobriu a estátua. Ele olhou, olhou e não pensou duas vezes: acabou com o treino...”aquilo era um mau presságio”! Até o cachorro Biriba, um viralatinha preto e branco entrava junto com o time em campo, porque dava sorte. Será que vem daí o batismo de “cachorrada” para a torcida alvi-negra? Bem, os historiadores saberão esta resposta. O que os historiadores não sabem e nem os deuses do futebol explicam é porque esses “seres botafoguenses” são tão, digamos, esquisitos, com todo respeito, é claro. Capazes de xingar com altos palavrões o ídolo do seu time que acabou de fazer um belo gol....Um tipo de desabafo, de grito contido, que sai em forma de xingamento. É exclusividade deles. E esteja prevenido se decidir ver o jogo ao lado deles. Seja no sofá da casa ou na arquibancada, ou por um site qualquer na internet. Para sobreviver é preciso ser imune aos efeitos da bipolaridade. O time vence fácil por cinco gols e aos 45 do segundo eles levam um golzinho. Pronto!”Olha aí, não vacila, que eles empatam”- pensará e dirá aos berros qualquer botafoguense normal. Talvez daí venha, quem sabe, o ditado de que têm coisas que só acontecem ao Botafogo. Eles devem trazer traumas terríveis que passam de geração em geração,de outras encarnações. A última decisão entre Botafogo e Fluminense no Carioca aconteceu há exatos 41 anos e foi 1 a 0 Flu, com aquele gol do Lula, que até hoje rende discussão. Foi falta, não foi falta.....Pois agora muitos botafoguenses que nem eram nascidos, como,por exemplo meus filhos, vão se vingar, zerar o que ficou engasgado. E nesse turbilhão de emoções, ser mãe de botafoguense é um karma nessa vida. Durante o jogo, especialmente se for contra o meu time, finja-se de morta, não dê um pio sequer, não emita nenhuma opinião, não faça expressões faciais que os desagrade, não contrarie. Véi, na boa, o melhor que eu faço é me afastar sorrateiramente, ir ver o longe bem longe. É um transe de noventa minutos, mas que pode ser maior, porque o stress começa desde a hora que eles acordam: Já abrem os olhos e, com sorte, você escuta um “bom dia”. É preciso relevar: são botafoguenses e não por acaso têm um ídolo que se chama Loco e que veste a camisa 13. Aliás, eles andam cochichando entre si que contam com um grande reforço para a decisão: O jogo vai ser num dia 13, da sorte, do Zagallo e de maio, data em que se comemora a abolição da escravatura no Brasil. Mas posso garantir, como mãe experiente de Maryna e Guilherme que sou: a carta de alforria esses “seres”jamais receberão . Vão ser eternos escravos da estrela solitária.