segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

TEMPO!

O barulho podia ser ouvido ainda no hall dos elevadores. Quanto mais a gente se aproximava, mais aumentava aquela sinfonia de teclas e o burburinho dos redatores e repórteres. Não havia dúvida: aquela era uma redação de jornal. As dezenas de laudas transformadas em bolinhas amassadas que iniciaram um texto, mas que foram desprezadas pelo próprio autor, coalhavam o chão, por onde circulavam jornalistas, num vai e vem frenético de hora de fechamento da edição em primeiro clichê. Na diagramação chegavam as fotos, para serem escolhidas. Só uma iria ilustrar a página. E tantas belas fotos voltavam pro arquivo, acomodadas em pastas de papel. Já era tarde, quase onze da noite, Jornal fechado, edição na oficina, no linotipo, a prova de página chegando, quentinha, pra ser aprovada ou corrigida e enfeitar as milhares de bancas de jornais no dia seguinte, cedinho, para serem lidas, devoradas por leitores entre um gole e outro de café da manhã. Era bom ver a nossa matéria publicada, assinada, trazendo uma notícia fresquinha, em primeira mão, quem sabe um furo...que alegria. Estávamos nos anos 60, 70. Computar era só um verbo. Navegar era preciso sim, mas em águas tranqüilas, apagar da mente não era deletar; era esquecer, pesquisar era uma árdua tarefa, trabalho demorado, em bibliotecas, manuseando livros velhos e desgastados,  paciente, sem a velocidade do Google que nos torna cada dia mais mecânicos e menos preparados . A memória era gigantesca, cabia muito aprendizado e a ampliávamos automaticamente, a medida que uma nova informação era captada por nossos cérebros. Control c, control v ¿ ah, que facilidade copiar um texto hoje!!!! Cartas, bilhetes, recados, manuscritos, postados sim, mas nos correios e que, em alguns dias ou meses estariam chegando ao seu destino. Tempo, tempo, és uns dos deuses mais lindos , diz a musica. E és um dos desafios mais interessantes  para  quem nasceu, cresceu, trabalhou no século passado, sob a batuta e os acordes das “pretinhas” (maquina de escrever) e que hoje acessa tudo e todos num simples toque do seu celular. Assusta¿ Assusta. E pensar que essa rapaziada nunca fez um titulo de 3 de 15, nunca manchetou uma página, nunca esperou ansioso pela revelação da foto que  fez num flagrante de pura sorte, com a sua Nikon, com teleobjetiva de 400. E revelou-se a sua enorme ingratidão, diria o maestro no tom daqueles anos, de dias mais calmos, preguiçosos, que estavam   à espera da grande revolution,  onde moram gerações de pânico, toc, depressão, stress,em que o dia não tem mais 24 horas e sim 16. Tempo, tempo, és eterno e, no entanto, passas hoje numa velocidade que não deixa rastro do que um dia já fomos.

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