sexta-feira, 27 de julho de 2012

HERANÇA


- Não sei o que fazer, tô stressada, amiga, com essa fase do Flamengo, tá me fazendo mal.

O desabafo foi comovente e, de certa forma me surpreendeu, porque não era um lamento de uma torcedora. Era muito mais que isso. Era a explosão de sentimento de quem herdou nessa vida algo de precioso. Não foi uma herança em dinheiro, em jóias, em imóveis, nada disso. A herança que a minha amiga recebeu do pai, João, foi uma paixão. Sim, uma paixão! Adriana, a filha do João, sempre foi rubro-negra, mas quando o pai se foi, deixou com ela algo que ela interpretou quase que como uma missão: dar continuidade nessa vida à paixão que João Areosa tinha pelo seu Flamengo.Jornalista de muitas coberturas esportivas, editor dos principais jornais e revistas do país, João se transformava quando o assunto era o Flamengo. Torcia feito louco, delirava nas vitórias, sofria calado nas derrotas. E no último domingo, quando o Flamengo perdeu mais uma nesse brasileirão, por um a zero para o Cruzeiro, o peso da herança recaiu sobre as costas de Adriana, filha fiel e saudosa, que se encarregou de manter viva essa chama. No fundo no fundo essa foi a forma especial que ela encontrou de manter o pai bem vivo perto dela. Ela sabe que ele está lá no céu e não vê com bons olhos o péssimo momento que o clube mais querido do Brasil atravessa. A torcida teme até que venha um rebaixamento, se nada for feito a tempo de mudar o rumo da equipe nesse campeonato. Se vivo fosse, João diria para botar os meninos em campo. Afinal ele viveu de perto os anos de ouro em que todo mundo dizia: " craque o Flamengo faz em casa". E dessa "máxima" surgiram Zico, Adilio, Andrade, Leandro, Tita, Junior...Tá bom pra você? Então porque não repetir a receita agora e dar uma chance para Adryan, Thomas, Matheus...... A hora é essa! Os meninos podem dar uma solução caseira para um clube atolado em dívidas, sem caixa pra comprar craques consagrados.
Daqui do meu cantinho faço um apelo a quem quer que vá comandar o Flamengo daqui pra frente: " dá uma trégua pro coraçãozinho da Adriana, que sente cada derrota como se fosse uma dívida com o pai!" Só as vitórias são capazes de devolver-lhe a paz e botar a consciência dela em dia com a herança que o João deixou.

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